20 de abril de 2018

Da chegada para a partida

Só deu vontade de escrever. Vou escrevendo. Sendo. Sem muitos adereços.

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A vida é elástica. Eu digo como quem a toca com intensidade.

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Eu sinto muito. Parece uma frase dita em momento de tristeza. Não é. Não tem essa exclusividade. "Eu sinto muito" envolve diretamente um sujeito. Eu. Que se desperta em verbo complexo. Sinto. Com profundidade. Muito. Acredito cada vez mais que a questão não é controlar essa medida. Já que existe, deixar existir. A questão é deixar com elegância de quem vive. O que agora é acredito já foi penso, troquei porque penso pareceu maldito.

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Brinco com as palavras. Não tenho medo de dizer que brinco. Pra mim faz parentesco com dançar. E/ou olhar. E/ou pintar. E/ou cantar. E/ou tocar. E/ou inventar. E/ou. Esses poderes que os humanos insistem em não reconhecer como sua mágica. Ah! Não posso esquecer de dizer: dou lugar pra pontos a medida que sinto eles caberem. Vê. Não visito a gramática. Peço licença a Língua Portuguesa. Não me justifico, me noto. Anoto.

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Olho pra foto aqui. É antiga com nome sobreposto e abreviado até o ponto de não descaracterizar. Deixo assim, pois guarda o mistério que sou. Leio a descrição abaixo: "adora gostar das coisas e compartilhar as coisas de que gosta... principalmente livros, arte e momentos" e já não gosto do tempo dos verbos. Mostram uma distância de eu mesma que já não julgo ter tanto. Posso mudar: "adoro...". Entretanto, não é só o tempo que estranho. Também a ordem dos dizeres. Se bem que nem toda tradução corresponde ao dito literal. Quem é viajado ou assiste série estrangeira, sabe.

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Digitar não é escrever. De todo modo envolve tocar com a ponta dos dedos o objeto para as palavras. Usa-se as mãos e tudo. Tudo. Então, pra mim dá no mesmo: escrevo. Não quero me exibir, por isso deixo a foto-passada-para-o-mistério. Posso ficar com o caderno, ao invés de. Só que apagar é mais fácil que rasgar folhas. Sim, quando faço, de tempos em tempos faço.